(Foto: Reuters/Bang Showbiz) |
Alguns pensamentos andam rondando minhas reflexões nos últimos tempos e que bom é ter um espaço onde possa compartilhá-los. Pode ser que eu fale algumas bobagens, mas já há muito não tenho me preocupado, nem me julgado tanto ao errar, pois é errando que se aprende. Eu acho.
Venho pensando muito que o lugar e a função do artista nos dias de hoje é contribuir para a criação de um novo capital simbólico, tendo em vista que foi a arte a responsável por fundamentar muito do que hoje está posto e sendo questionado, ainda bem, cada dia mais.
Acredito muito que o papel submisso da mulher, a ideia de que a felicidade está em constituir família, casar, ter filhos, foi criada pelo patriarcado, mas também alimentado pelas produções culturais servidas à massa em abundância pela TV, pelo cinema, pela literatura e pelas artes em geral. O amor romântico embora criador de ótimos enredos, nos faz acreditar ser ele o caminho para uma completude e para uma felicidade plena. Alimentado pelas novelas, pelos filmes, nos fez buscar por anos pares que nos completassem, nos prendendo em relacionamentos nem sempre saudáveis e muitas vezes agressivos e tóxicos.
Quando Marília Mendonça fala sobre mulheres amantes, mulheres metendo o pé na jaca, nos dá um novo capital simbólico onde outras realidades também são possíveis. Dá pra ser feliz solteira, dá pra ser feliz mandando o “boy magia” ir catar coquinho.
Aí depois da morte dela vi em muitos conhecidos a necessidade da afirmação: - Não conhecia, mas... Como se isso garantisse um status de intelectual, mas com sentimentos. Li também vários textos sobre isso. Fico do lado dos que acham que a intelectualidade não está valendo de muito ultimamente e que cultura boa e necessária é aquela que chega, conquista e transforma através da identificação. Então não conhecer Marília Mendonça e só conhecê-la depois de sua morte, nos coloca no lugar dos mais empobrecidos pelo fato de que já poderíamos ter aprendido com ela. Assim como precisamos aprender com a Pablo Vittar, com o funk, com o sertanejo e inclusive com o menino branco, hétero, Tiago Iorc e sua estratégica jogada de marketing.
Precisamos de um novo capital simbólico, precisamos construir novas possibilidades de vida sobre a terra em nossas cabecinhas, onde a correção da dívida histórica com relação aos negros seja tema de pesquisas nas academias, mas também cantada na roda de pagode daquele boteco maneiro do final de semana. A masculinidade, toda a sua problemática e reinvenção precisa ser discutida pelo homem hétero branco de classe média, principalmente sendo ele o personagem central dessa fuzarca toda. Ou não vamos permitir a redenção dessas pessoas? Nos grupos LGBTQIA+, nos grupos feministas já estamos cansadas de pensar e repensar todos os clichês usados por Tiago Iorc, mas creio que devemos acalmar nossos coraçõeszinhos e deixar que essas reflexões cheguem a mais pessoas.
Citei o sertanejo, porque inclusive nosso conterrâneo André di Barros acabou de lançar uma música que traz em sua letra uma mulher que subjugada por seu parceiro não ficou chorando pelo seu amor, mas foi cuidar da vida dela, beijar outras bocas e enfim, fazer o que deve ser feito, seguir em busca de algo realmente melhor.
Então eu acho que nós artistas, principalmente os de artes “menos populares” em cidades como a nossa, devemos guardar nossa pseudointelectualidade nos bolsos e buscar aceitar o fato de que assuntos complexos e importantes devem ser tratados por todos, em todos os lugares até que as novelas, os programas de domingo, as Sessões da Tarde, sejam tomadas pela equidade e que transexuais, mulheres negras, pessoas com deficiência estejam não apenas representadas, mas ocupando todos esses espaços com narrativas contundentes de tal forma que o futuro só possa ser sonhado em pé de igualdade entre todos nós.
Boas Festas e obrigada, Marília Mendonça.
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